quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O Pacto

Aparentemente, era mais um dia comum na faculdade, e mais um almoço comum. Eu, Gustavo e Natasha saboreávamos nossos pratos no Bandejão Central; contudo, o clima não era de alegria, mas sim de medo e pessimismo: a faculdade ameaçava uma greve, e das grandes - envolvendo professores e funcionários. O que, infelizmente para nós, significava o que chamam de "Greve do Pijama", ou simplesmente como dissemos, "férias forçadas". Detalhe: não gostamos de férias; ainda mais em tais circunstâncias. Tédio, sentimentos de inutilidade e depressão fazem parte das nossas férias.

- Será que vai ter greve...? - nos perguntávamos entre uma garfada e outra, melancólicos.

A indagação era retórica: sabíamos que sim.

- Se tiver greve, vamos continuar nos vendo mesmo assim, certo?..

- É, mas não é a mesma coisa....

- De fato...

A comida parecia cada vez mais insossa conforme a conversa progredia. Até que num ato de desespero, tive uma idéia: a de escrevermos uma espécie de diário de bordo e a compartilharmos entre a gente caso a greve ocorresse. Meus amigos não concordaram e nem discordaram completamente. Peguei então uma mexerica que estava na minha bandeja - por acaso, era a sobremesa daquele dia - e fiz com que os dois pusessem as mãos sobre a fruta.

- Nada de deixar a preguiça e a tristeza nos dominar nessa greve! Vamos manter o diário de bordo atualizado e mantermos contato uns com os outros. É o nosso pacto, ok? O Pacto da Mexerica.

Não sei se foi pela tragicomicidade da situação ou pela inércia, mas entramos então em comum acordo e fizemos o pacto.

Agora a notícia feia: a greve já se iniciou há 2 meses, e ninguém escreveu nada: nem ao menos uma página do diário, muito menos eu mesma. E confesso que o que me impediu de escrever a vocês, Gustavo e Natasha, foi a mais pura preguiça e o pensamento de "Já que eu não faço nada o dia inteiro, vou escrever sobre o quê?". Mas agora, chega disso! Vou escrever sobre qualquer coisa, e qualquer coisa não pode ser ruim, porque a vida tem mais momentos de trivialidade do que de clímax. Então aqui vai o primeiro relato do nosso diário.

***

6 de Agosto de 2014 (quarta-feira gelada)

As aulas na faculdade já voltaram, mas somente para os cursos que não aderiram à greve... o que não é o meu caso. Contudo, o campus inteiro está sem o hospital universitário e o bandejão. Logo, estou fazendo a minha própria comida todos os dias e ainda vivendo um cotidiano similar às férias; o que às vezes não me parece tão ruim, tendo em vista que tem feito uns 10 graus de manhã, e enquanto o Carybé vai caminhando à facu nesse frio insuportável, eu fico embaixo de 3 cobertores grossos e posso dormir até as 10 da manhã.

Pra vermos que tudo na vida tem o seu lado bom.

***


Nenhum comentário:

Postar um comentário